terça-feira, fevereiro 05, 2008

# 020

- ...às vezes, a gente inventa coisa na cabeça!
- Eu tava pensando nisso...
- No quê?!
- Não sei, você começou...

Parei um instante em sorriso, percebendo a lógica da conversa e continuei colar de contas. Lavava roupa no tanque pra ajudar a máquina, porque sozinha, coitada, não dava conta, dizia ela. E eu quarava o corpo sem camisa, longe, sob varal. Mesmo assim jurava tê-la visto ao meu lado, enquanto agulhava dedo e miçanga.

- ...é que eu te vi aqui do meu lado, agora mesmo... acredita?!
- É, às vezes, a gente inventa coisa na cabeça.
- Eu tava pensando nisso.

Um verde, outro marrom, o colar se repetia em cores: como novo e maduro. E no instante da velha, não foi só riso, mas risada, de lavar alma.

- ...mas eu acredito! Maior desgraça, não acreditar nas coisas.

Ela era assim, a lavadeira, engraçada. E a gente se entendia, sem roupa suja.

No fim das contas, sorri das repetidas e da pérola que ela me dava, pra fechar o colar com brilho.

Um comentário:

papítero disse...

um verde e outro marrom,
cada um, com o seu destino, quando a volta se completa.

fico feliz em lhe reencontrar nessa "barriga doce",

- inu mi dun!

encontro aqui poesia: encanta e aquieta.

aprendo contigo,

verdade que de todo é dizer que estou agraciada!

:D