quarta-feira, junho 24, 2009

# 056

"
(...)
Eu diria que o humor de gueto, por exemplo, nasce em parte da necessidade de estender o tempo e de ganhar tempo, muitas vezes de maneira vertical.
Se você sabe que tem uma determinada quantidade de tempo em que você pode sobreviver no desespero - seja porque esse é constante ou porque você vai ser enforcado - uma maneira de você estender a sua vida nessas horas é 'poetizar'. E há muita poesia no humor também. Se você assume essa dimensão você pode viver mais e melhor ou, digamos, viver um momento que não pode ser medido pelo tempo.
"

Elia Suleiman
em entrevista sobre The Time That Remains

quinta-feira, junho 11, 2009

# 055

Galo preto cantou três vezes na madrugada.
Deixou uma marca no vento,
fechando a mesa que não coube no espaço

"
Em verdade, em verdade te digo:
não cantará o galo duas vezes esta noite
enquanto não me tiveres três vezes negado
"
Mateus, 26; Lucas, 22; Marcos, 14; João, 13

sábado, junho 06, 2009

# 054

com dificuldade
a criança aprende a dança
baile sem idade

# 053

Uma nuvem de peixes passava, quem guardou guardou, e se a mulher subir é guerra. Saiu do fio de buriti ao som da taquara de ontem, tocou uma árvore forte pra jamais esquecer. Coaraci entrava frio nas folhas, muitos olhos viram aquela memória. Só o guaraná entendeu.

segunda-feira, junho 01, 2009

# 052

O menino orou um sorriso, iluminou o lugar, que se Adélia visse reconheceria como de oração. Sentia ali o simples, porque deus é isso, simples. Tão óbvio poder enxergar que só não vendo pra se ter atenção. O silêncio da roda era tudo o que queria, pra alguém dizer "passou um anjo". Abriu olho na hora e fez-se a luz: janela aberta, dois dentes nascendo. O que existe não é bom nem mau, só permanente e leite.