quinta-feira, julho 31, 2008

# 026

...de volta. Ninguém esperava mais. E na facilidade do hábito, desacostumaram-se com aquela presença que de repente surgia. Caminhou muito tempo pelas ruas, procurando horizonte numa cidade que não tinha. E com tantos anteparos e edifícios, o olhar que lançava sempre voltava, porque não havia onde se perder. Como não ser individualista num lugar que só nos faz enxergar a si próprio? Tentou aliviar o suor do inverno quente e seco, deslocado como tudo naquilo, mas não achou rio limpo o suficiente para se banhar. Procurou fonte, bica, mas nada de natural ali mais existia. E viu que o artifício do lençol, que se esconde sob a superfície, também já estava poluído. Um dia, quem sabe, a harmonia natural dos dois voltasse... Mas na consciência, do olho que enxerga além do pó cinza, percebia que tudo agora era um. E seco. Mas isso não foi um despertar. Só clarividência de olho d'água que brota da irritação do meio. E esse meio era o caminho. Num chafariz tímido, esfriou nuca e pulsos, e resolveu voltar. Não queria mais o extraordinário, como a metrópole oferecia, queria o simples, a vida que o corpo pede desde a origem. E agora, no meio do caminho, voltar aos pólos era negar o positivo, andar pra trás um pouco e perceber que o que estava à frente era ilusão. Não ilusão, porque voltar também era, mas incompleto. E nessa percepção, de buscar-se completar entre ilusões, viu que precisava do outro, e por isso voltou. Pensou em escrever algo antes, mas desistiu, porque não os faria entender melhor. Seria apenas justificativa, pra aceitar a própria volta. E por isso voltou simplesmente. E se pôs de novo aos olhos daqueles que antigamente o viam, sem saber da imagem que persistia nas retinas. Gerou outra, mais simples. Voltou.