Queria espirrar tornado,
não girar só a tempestade,
que me chamassem Katrina
pra dançar árvores, virar casas do avesso,
queria tudo abaixo, só pernas pro ar,
ver pessoas formigas
pra pisá-las sem dó,
soltar de palavras o vento,
respirar fungado a quebrar silêncio,
e que o atchim fosse curto,
mas de vasta dor,
sem sobrar pulmão a desejar saúde,
o sopro dado não seria de vida,
porque simplesmente não deus,
e num piscar do furacão, o olho
me faria ouvir o que mudo
pra emitir mais voz...
O entorno continuaria em tornado,
mas sentiria assim a brisa
que range os bambus
e os ouviria assoviar:
Sou flexível!
E o vento,
tornado em mim
viver
terça-feira, fevereiro 26, 2008
# 021
terça-feira, fevereiro 05, 2008
# 020
- ...às vezes, a gente inventa coisa na cabeça!
- Eu tava pensando nisso...
- No quê?!
- Não sei, você começou...
Parei um instante em sorriso, percebendo a lógica da conversa e continuei colar de contas. Lavava roupa no tanque pra ajudar a máquina, porque sozinha, coitada, não dava conta, dizia ela. E eu quarava o corpo sem camisa, longe, sob varal. Mesmo assim jurava tê-la visto ao meu lado, enquanto agulhava dedo e miçanga.
- ...é que eu te vi aqui do meu lado, agora mesmo... acredita?!
- É, às vezes, a gente inventa coisa na cabeça.
- Eu tava pensando nisso.
Um verde, outro marrom, o colar se repetia em cores: como novo e maduro. E no instante da velha, não foi só riso, mas risada, de lavar alma.
- ...mas eu acredito! Maior desgraça, não acreditar nas coisas.
Ela era assim, a lavadeira, engraçada. E a gente se entendia, sem roupa suja.
No fim das contas, sorri das repetidas e da pérola que ela me dava, pra fechar o colar com brilho.