segunda-feira, setembro 14, 2009

# 061

Uma planta que forma coração, com vários fios de trepadeira. Não o de carne que quando visto lembra espeto, um contorno desses de desenho em árvore, sem átrio nem ventrículo, mas com dois nomes dentro. Vivo, vermelho nº46. No caso verde, o da planta ainda sem flor.
- Amor agarradinho é o nome... sabe por que chama assim?
- ... porque é agarradinho.
Respondeu a menina que ainda nem tamanho tinha, mas já quatro anos, uma graduação.
- Esse nome é dela, ou colocaram nela?
- ...
Nem o mestrado respondeu meio metro de provocação.
Nem residência e já doutora do coração.

quinta-feira, setembro 10, 2009

# 060

"
O homem estava sentado sobre uma lata na beira de uma garça. O rio Amazonas passava ao lado. Mas eu queria insistir no caso da rã. Porque me contou aquela uma que ela comandava o rio Amazonas. Falava, em tom sério, que o rio passava nas margens dela. Ora, o que se sabe, pelo bom senso, é que são as rãs que vivem nas margens dos rios. Mas aquela rã contou que estava estabelecida ali desde o começo do mundo. Bem antes do rio fazer leito para passar. E que, portanto, ela tinha a importância de chegar primeiro. Que ela era por todos os motivos primordial. E quem se fez primordial tem o condão das primazias. Portanto era o rio Amazonas que passava por ela. Então, a partir desse raciocínio, ela, a rã, tinha mais importância. Sendo que a importância de uma coisa ou de um ser não é tirada pelo tamanho ou volume do ser, mas pela permanência do ser no lugar. Pela primazia. Por esse viés do primordial é possível dizer então que a pedra é mais importante do que o homem. Por esse viés é que a rã se acha mais importante do que o rio Amazonas. Por esse viés, com certeza, a rã é uma creatura orgulhosa. Dou federação a ela. Assim como dou federação à garça quem teve um homem sentado na beira dela. As garças têm primazia.
"

Manoel de Barros
em Memórias Inventadas

# 059

Psiu, ...quem dita
o caminho do trajeto
é o fim, não o começo... Eu vi!