Pois não recebe mais ninguém, mesmo que se entre e o pegue fechado com coração guardado, involuntário e farto. Já atendeu a todas as campainhas desta porta. Está a fugir de tudo agora, em busca do buraco que traga o herdado. Buraco negro, sem religião. A única esperança vem dos astrofísicos, porque no teto são tantos furos que não respondem e só gotejam dia-a-dia ordinário que até as baratas brincam de sair dali. E dançam. Não existe mais gravitação. A rota do planeta desenha uma elipse cada vez mais larga e gasosa. Nem lembra se é um ano a medida da volta que deu. Ou se é revolta. Não acha o negro. E a única estrela viva é o sol que aquece no momento do cigarro, onde tudo se esfarela em cinzas. Ao lado do ralo há o filtro de cada pensamento jogado, amarelo e viciado de tanto respirar naquele espaço. Seria possível renascer no corpo ainda vivo? Toda a memória até ali uma vida passada... um arroz com ovo assado sobre a geladeira é o último a que se cabe a memória atualizada, para que haja a trégua dos fantasmas e para que ajam os que restaram. Um olimpo frost-free à refrigeração avançada dos dias.
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