...porque a dor move e não há nada mais primeiro do que o impulso de gritar conforme a perda. Carregavam os móveis, na mudança da calçada para a kombi, cabisbaixos porque sabiam da verdade do discurso que ouviam.
A senhora com a criança ficou do outro lado da rua, sem voltar com a notícia da filha sobre a venda.
Era intenso o choro do homem. Vermelho, escorria com a farpa no dedo. Quatro peças de vime, três cestos, uma cadeira, jogados com um lacre. Cinco policiais e um serviçal da prefeitura. Todos ali a serviço, tirando o sustento. As peças foram compradas no crédito e ainda se pagariam.
Violadas num crime. O laudo de apreensão era escrito, mas não se imprimia a revolta. Por que não se dá o trabalho?! A menina apertou a mão da vó que a fez subir dali no elevador de serviço. O social estava ocupado, não dava pra usar, e a vantagem era que não lhe oferecia espelho. Não queria ver, nem refletir. Mas a menina a observava por baixo, esperando cobertura.
Desceram no lar único do andar, apressado e nebuloso. Na altura em que estavam, cortariam nuvens em movimento, a menina terminava o algodão e a vó se neblinava.
- Compraram a cadeira? - perguntou a filha, saída do banheiro suado.
A velha mal olhou.
- Ele não estava mais...
A menina lambeu o espeto de madeira com gosto de açúcar e o jogou no lixo da cozinha. Não entendeu direito por que não ganhou a cadeirinha de balanço que era "bonita por ser de vime". Mas o gato dispersou tudo em pêlo.
Rolou no chão duas vezes, com a barriga pra cima, esperando carinho.