tag:blogger.com,1999:blog-5058897.post1219275732084509467..comments2019-07-09T13:20:05.854-03:00Comments on Barriga Doce: # 067roneyfreitashttp://www.blogger.com/profile/09797144036390377061noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-5058897.post-52179902800413259892010-05-21T01:45:22.733-03:002010-05-21T01:45:22.733-03:00"
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não ..."<br />Não faças versos sobre acontecimentos.<br />Não há criação nem morte perante a poesia.<br />Diante dela, a vida é um sol estático,<br />não aquece nem ilumina.<br />As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.<br />Não faças poesia com o corpo,<br />esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.<br /><br />Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro<br />são indiferentes.<br />Nem me reveles teus sentimentos,<br />que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.<br />O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.<br /><br />Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.<br />O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.<br />Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.<br /><br />O canto não é a natureza<br />nem os homens em sociedade.<br />Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.<br />A poesia (não tires poesia das coisas)<br />elide sujeito e objeto.<br /><br />Não dramatizes, não invoques,<br />não indagues. Não percas tempo em mentir.<br />Não te aborreças.<br />Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,<br />vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família<br />desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.<br /><br />Não recomponhas<br />tua sepultada e merencória infância.<br />Não osciles entre o espelho e a<br />memória em dissipação.<br />Que se dissipou, não era poesia.<br />Que se partiu, cristal não era.<br /><br />Penetra surdamente no reino das palavras.<br />Lá estão os poemas que esperam ser escritos.<br />Estão paralisados, mas não há desespero,<br />há calma e frescura na superfície intata.<br />Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.<br />Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.<br />Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.<br />Espera que cada um se realize e consume<br />com seu poder de palavra<br />e seu poder de silêncio.<br />Não forces o poema a desprender-se do limbo.<br />Não colhas no chão o poema que se perdeu.<br />Não adules o poema. Aceita-o<br />como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada<br />no espaço.<br /><br />(...)<br /><br />Repara:<br />ermas de melodia e conceito<br />elas se refugiaram na noite, as palavras.<br />Ainda úmidas e impregnadas de sono,<br />rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.<br />"roneyfreitashttps://www.blogger.com/profile/09797144036390377061noreply@blogger.com